Os clientes que adentram nos hospitais desconhecem muitas normas que garantem o bom funcionamento das instituições. Muitas vezes, eles escolhem de acordo com a indicação de um parente ou amigo, pela propaganda veiculada por uma celebridade que se submeteu aos serviços deste ou aquele hospital ou também pela hotelaria, pois há pessoas que dão mais valor às acomodações do que ao serviço qualificado.
Como já trabalhei em hospitais, posso afirmar que eles se preocupam com o bem-estar dos clientes e prezam pela qualidade da assistência, entretanto o lucro é o objetivo principal _ como em qualquer empresa _ o que pode acarretar um certo descaso em alguns aspectos que são irrelevantes para os administradores, mas fazem a diferença na qualidade dos serviços prestados.
Primeiramente, ao dar entrada em uma instituição, seja pública ou privada, o cidadão deve atentar para a limpeza do estabelecimento. Verificar o asseio não é observar se o piso é bonito, a cor das janelas, das paredes, etc. O mais importante é olhar se há sujeira no chão, nos balcões, no banheiro... Todo hospital possui um funcionário da limpeza à disposição durante as 24 horas do dia para garantir não só a beleza como a prevenção das infecções hospitalares, também chamadas de infecção nosocomial.
A infecção hospitalar é uma constante preocupação dos administradores e profissionais de saúde porque ela denota, de maneira direta, a qualidade da assistência e está ligada a vários aspectos:
- Lavagem das mãos que deve ser realizada antes e após os procedimentos e visitas aos clientes;
- Uso de equipamentos de proteção individual (luvas, máscara, avental e etc);
- Controle dos visitantes (principalmente nas unidades de maior risco como os Centros Cirúrgicos e UTIs);
- Isolamento de portadores de determinada patologia (tuberculose, meningite, rotavírus). Conheça os tipos de isolamento e as doenças
- Trabalho da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH).
A CCIH é a responsável pelo controle dos agravos referentes à infecção e executa diversas funções a fim de coibir os casos e prevenir a ocorrência dos mesmos. Dentre suas principais atribuições estão:
- Detectar os casos de infecção hospitalar;
- Conhecer as principais infecções hospitalares no serviço e definir se a ocorrência deste episódios está dentro de parâmetros aceitáveis;
- Elaborar normas de padronização para que os procedimentos sigam uma técnica asséptica (sem a penetração de microorganismos);
- Colaborar no treinamento dos profissionais de saúde quanto à prevenção e controle das infecções hospitalares;
- Realizar o controle da prescrição dos antibióticos;
- Recomendar as medidas de isolamento de doenças transmissíveis;
- Oferecer apoio técnico à administração hospitalar para a aquisição correta de materiais e equipamentos.
Outro fator importante que deve ser levado em consideração pela população é o índice de infecção hospitalar. Ele é calculado pela CCIH que relaciona o número de clientes que adquiriram a infecção e o número de clientes que entraram e saíram da instituição em um determinado período. Cada hospital possui a sua particularidade que influencia neste cálculo, portanto não se deve comparar os índices das instituições e nem achar que uma é melhor do que a outra apenas pela baixa porcentagem. Para se ter uma ideia, a média da taxa da infecção mundial é de 5% e o Brasil apresenta uma média de 15,5% conforme os dados do Ministério da Saúde.
Um detalhe que passa despercebido pelo cliente é o número de profissionais de enfermagem que trabalham na unidade onde ele está internado. A relação enfermeiro e técnico de enfermagem para cada grupo de pacientes deve ser levada em conta e existem normas específicas as quais regulamentam o dimensionamento de pessoal de enfermagem, pois a qualidade dos serviços também depende do número de clientes atendidos pelo profissional.
Essas normas avaliam o tipo de paciente _ que pode ser de cuidados mínimos, intermediário, semi-intensivo e intensivo _ para calcular a quantidade de profissionais que deve trabalhar nas 24 horas.
Para a pessoa que não conhece a área da saúde, é muito difícil avaliar o hospital sob esta ótica e ninguém (exceto os enfermeiros) é obrigado a conhecer as normas de dimensionamento. Entretanto, há instituições que exageram e nem precisamos conhecer os tipos de paciente para dizer que o número de profissionais não condiz com a quantidade de clientes.
Existem hospitais, por exemplo, que possuem unidades contendo 50 leitos com pacientes de vários tipos e ocupação máxima. Eles escalam um enfermeiro e quatro ou cinco técnicos de enfermagem por turno de trabalho. Neste caso, é impossível os profissionais darem a devida atenção aos pacientes.
O cidadão pode tirar as suas dúvidas ou comunicar os órgãos fiscalizadores que são os Conselhos Regional e Federal de Enfermagem (COREN do seu estado e COFEN).
Em suma, um excelente hospital possui baixo índice de infecção hospitalar, profissionais altamente capacitados e em número suficiente para garantir o bom atendimento. Esses fatores devem ter mais importância do que a beleza da fachada, a hotelaria, a indicação do amigo e etc. No final das contas, os pacientes confiam as suas vidas à equipe multiprofissional e, se estes não efetuarem o seu trabalho de maneira correta, podem acarretar sérios danos à pessoa que procurou o serviço.
Artigos relacionados:
Portaria MS 2.616/98 - Regulamenta as ações de controle da infecção hospitalar
Manual de dimensionamento - COREN SP